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Aumento da violência islâmica militante no Sahel domina a luta de África contra os extremistas

Um aumento anual de 70 por cento em eventos violentos ligados a grupos islamistas militantes no Sahel impulsionou um novo recorde de violência extremista em África, em 2021.


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Map - Africa's Active Militant Islamist Groups, January 2022Descarregar todos os mapas como PDF

Destaques

  • Uma quase duplicação da violência ligada a grupos islamistas militantes no Sahel em 2021 (de 1 180 para 2 005 eventos) realça a rápida escalada da ameaça à segurança nesta região. Este pico foi a mudança mais significativa em qualquer dos teatros de violência dos grupos militantes islamistas em África e encobriu um declínio médio de 30 por cento da atividade violenta nas regiões da Bacia do Lago Chade, no norte de Moçambique e em regiões do norte de África.
  • Globalmente, a violência dos grupos islamistas militantes em África subiu 10% em 2021, estabelecendo um recorde de mais de 5 500 eventos registados ligados a estes grupos. Isto prossegue um padrão ascendente verificado desde 2016. No entanto, a taxa anual de crescimento foi muito inferior ao aumento de 43 por cento registado em 2020.
  • Em toda a África, as mortes registadas ligadas a grupos islamistas militantes diminuíram 7 por cento em 2021 em relação ao ano anterior, para uma estimativa de 12 700 mortes. Isto inclui um declínio de 14%   no número de mortes ligadas à violência contra civis, revelando uma diminuição de mortos em todos os teatros, exceto no Sahel.
  • Incidentes de lutas envolvendo grupos islamistas militantes e forças armadas, tanto estatais, como não-estatais compreenderam 52% de todos os acontecimentos violentos registados em 2021. Isto reflete uma escalada significativa em lutas no norte de Moçambique, na Somália e no Sahel, continuando a tendência dos últimos anos.
  • A violência islamista militante em África continua em grande parte concentrada em cinco teatros, cada um compreendendo distintos atores locais e desafios de contextos específicos: o Sahel, a Somália, a Bacia do Lago Chade, Moçambique e o Norte de África.
MIG2022 Chart 1 - Trends in Fatalities Linked to Militant Islamist Groups in Africa

Fonte dos dados: Localização do conflito armado e estudo dos dados do acontecimento

Sahel

  • Os 2 005 acontecimentos violentos observados no Sahel (especificamente Burkina Faso, Mali e Niger Ocidental) em 2021, representam um aumento de 70% em relação ao ano anterior. Isto continua uma escalada ininterrupta de violência envolvendo grupos islâmicos militantes na região desde 2015. Apesar desta viloência ter tido origem e de ainda estar largamente centrada no Mali, a tendênci deslocou-se agora para o Burkina Faso, que representa 58% de todos os acontecimentos no Sahel.
  • Dois grupos, a Frente de Libertação Macina(FLM) e o Estado Islâmico do Grande Sahara(ISGS), são responsáveis pela maioria destes ataques violentos. A FLM faz parte de um consórcio de grupos com ligações à Al Qaeda no Magrebe Islâmico conhecido como Jama‘at Nusrat al Islam Wal Muslimin (JNIM).
  • As 4 839 mortes estimadas ligadas a estes acontecimentos violentos no Sahel em 2021 foram 17% mais elevadas do que no ano anterior. Isto segue-se a um aumento de 57% registado em 2020. Existem agora mais fatalidades ligadas a grupos islâmicos militantes no Sahel do que em qualquer outra região de África.
  • A partir de 2020 os ataques a civis (833) e fatalidades relacionadas (1 332) reportados no Sahel quase duplicaram. A violência de grupos islâmicos militantes contra civis no Sahel representa 60% de toda esta violência em África.
  • Uma consequência observável desta violência no Sahel é a deslocação de mais de 2,4 milhões de pessoas, incluindo mais de 190 000 refugiados e 2,2 milhões de deslocados internos. O Burkina Faso é responsável pela maior parte destas deslocações, com cerca de 1,6 milhões de deslocados.
  • As lutas entre forças de segurança e grupos islamistas militantes também aumentaram ao longo do último ano – mas variaram muito consoante os grupos. As lutas com os grupos JNIM aumentaram em 50%, enquanto os confrontos com o ISGS registaram uma diminuição de 45%.

Somália

  • Houve um aumento de 17% na atividade violenta envolvendo o Al Shabaab durante o ano passado (de 1 771 eventos reportados para 2 072) marcando um aumento constante – e quase o dobro – dos 1 080 eventos em 2015.
  • O teatro somali é responsável por 38% de todos os eventos de grupos islamistas militantes em África, aproximadamente equivalente ao nível do Sahel. Apesar do aumento consistente da atividade do Al Shabaab na Somália ao longo dos anos, isto representa um declínio relativo do seu envolvimento em aproximadamente metade de toda a violência islamista militante observada em África durante grande parte da última década – refletindo a escalada da violência noutros teatros, particularmente no Sahel.
  • Quase três quartos dos eventos ligados ao Al Shabaab, em 2021, eram respeitantes a lutas entre o Al Shabaab e as forças de segurança. O número de lutas aumentou 32% em 2021, enquanto que os ataques a civis caíram 27%. O Al Shabaab continua a tentar aproveitar as crises políticas em torno do adaiamento das eleições legislativas e presidenciais para expandir a sua influência.
MIG2022 Chart 1 - Trends in Fatalities Linked to Militant Islamist Groups in Africa by Theater

Fonte dos dados: Localização do conflito armado e estudo dos dados do acontecimento

Lago Chade

  • Os 843 acontecimentos violentos observados na Bacia do Lago Chade (que se estendem por quatro países: Nigéria, Camarões, Chade e Sudeste do Niger), em 2021, representam uma diminuição de 32% na atividade islamista militante em relação ao ano anterior. Isto reflete uma reviravolta notável no aumento da violência em 2020, embora ainda corresponda a cerca de 10% por cento mais incidentes do que em 2019.
  • A Bacia do Lago Chade também sofreu uma queda de 21% nas fatalidades anuais registadas ligadas a grupos islâmicos militantes. O Boko Haram registou a maior queda (46%), enquanto que a sua ramificação, o Estado islâmico da África Ocidental (ISWA), observou apenas uma queda de 3%. Isto pode ter sido devido às grandes transições por que cada grupo passou em 2021, entre as quais se destaca a morte , em maio, do líder de longa data de Boko Haram, Abubakar Shekau.
  • A violência do Boko Haram e do ISWA contra civis caiu 49 por cento, em 2021. Isto refletiu-se em declínios semelhantes na violência remota, tais como, as referentes a explosivos improvisados e bombardeamentos, (33%) e lutas (18%).
  • O recrudescimento da violência no noroeste da Nigéria é largamente atribuído a grupos criminosos organizados mais do que a grupos islâmicos militantes.

 Norte de Moçambique

  • O número de incidentes violentos registados ligados a grupos islamistas militantes na província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, caiu 25%, em 2021, para 329 – uma mudança dramática em relação ao aumento de 129% registado em 2020.
  • Pela primeira vez desde o início da insurreição no final de 2017, o nordeste de Moçambique assistiu a mais lutas (56%) do que a violência contra os civis (38%) em 2021. Os ataques a civis, em 2021, caíram 58% em relação ao ano anterior.
  • As 1 067 mortes registadas em 2021 (das quais 66% estavam associadas a lutas) marcam uma queda de 33% em relação ao ano anterior. As fatalidades ligadas à violência contra civis diminuíram em 60%. Estas quedas nas fatalidades registadas correspondem ao destacamento de tropas da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) e do Ruanda.

África do Norte

  • Os 234 acontecimentos violentos envolvendo o ISIS no Norte de África, em 2021, representam um declínio contínuo de 5 anos nos incidentes desde o seu ponto alto, quando se registaram 506 episódios violentos ligados a ISIS. Praticamente toda a atividade reportada em 2021 foi no Egipto (cerca de 95%). As 272 mortes ligadas a estes acontecimentos representam uma queda de 52%, a partir de 2020 – e um declínio de 14 vezes em relação às mais de 4 000 mortes registadas em 2015.
  • O teatro egípcio é caracterizado pelo conflito de longa data entre os militares egípcios e os grupos islamistas militantes, principalmente no Sinai. Em 2021, a violência remota representou 55% dos acontecimentos violentos e 45% das mortes registadas no teatro do conflito, enquanto as lutas representaram 35% dos acontecimentos e 45% das mortes.