Mortes ligadas à violência islâmica militante em África continuam a aumentar

As mortes ligadas à violência militante islâmica aumentaram 20% em 2023, causando mais de 23.000 vítimas mortais — um novo recorde. Mais de 80% destas mortes registaram-se no Sahel e na Somália.


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Mortes ligadas à violência islâmica militante em África continuam a aumentar

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Destaques

  • As mortes ligadas à violência dos militantes islâmicos aumentaram 20% no ano passado (de 19.412 em 2022 para 23.322) — um nível recorde de violência letal. Isto representa uma quase duplicação do número de mortes desde 2021.
  • 83% das mortes registadas ocorreram no Sahel e na Somália. As duas regiões registaram aumentos anuais de 43% e 22%, respetivamente, no número de mortes relacionadas com o extremismo violento.

Tabela 1 - Fatalidades ligadas a MIGs em África por teatro

  • No entanto, a situação no continente apresenta diferenças. Tanto a região do norte de África como a situação em Moçambique registaram reduções drásticas—98% e 71%, respetivamente – no número de vítimas mortais ligadas à violência dos militantes islâmicos.
  • Estes decréscimos ilustram os progressos que podem ser feitos contra os grupos militantes islâmicos em África.
  • Devido à diminuição da atividade violenta nestas duas regiões, o Sahel, a Somália e a bacia do Lago Chade representam agora 99% das mortes ligadas a grupos militantes islâmicos em África.
  • A diminuição da atividade violenta no Norte de África e em Moçambique contribuiu para uma queda de 5% no número de eventos extremistas violentos em todo o continente no ano passado — 6.559.
  • Este é o primeiro decréscimo no número de incidentes violentos ligados a grupos militantes islâmicos em África desde 2016, aquando se registaram 2.513 eventos violentos.
  • Esta descida foi acompanhada por um declínio de 13% nas mortes relacionadas com a violência contra civis, refletindo diminuições em todas as regiões, exceto no Sahel.

Tabela 2 - Fatalidades ligadas a grupos militantes islâmicos por teatro

Sahel

  • As cerca de 11.643 vítimas mortais ligadas à violência dos militantes islâmicos no Sahel constituem um recorde para qualquer um dos cinco teatros africanos desde o pico da violência doBoko Haram em 2015.
  • O número de vítimas mortais no Sahel quase triplicou em relação aos níveis registados em 2020, ano em que ocorreu o primeiro golpe militar na região, justificado, aparentemente, por razões de insegurança.
  • As mortes no Sahel representaram 50% de todas as mortes ligadas a grupos militantes islâmicos registadas no continente em 2023. Em comparação, o Sahel foi responsável por 30 por cento das mortes ligadas a grupos militantes islâmicos no continente, em 2020.
  • A violência contra civis representa 35% de todos os eventos ligados com os militantes islâmicos no Sahel, o valor mais elevado de todas as regiões de África.
  • O facto de os meios de comunicação social verem o seu espaço de manobra mais reduzido e controlado e, portanto, terem cada vez menos espaço para informar sobre o agravamento da segurança desde os golpes de Estado no Mali, Burkina Faso e Níger, é provável que o número de acontecimentos violentos e de mortes ligadas aos grupos militantes islâmicos na região sejam menos noticiadas.
  • A maior parte do aumento do número de vítimas mortais está ligada à coligação Jama’at Nusrat al Islam wal Muslimin (JNIM), nomeadamente à Frente de Libertação de Macina (FLM) e ao Ansaroul Islam. A coligação foi associada a um aumento de 67% nas mortes registadas – 9.195 em 2023 a(5.499 em 2022).
  • A coligação JNIM está associada a 81% da violência dos militantes islâmicos no Sahel.
  • Em contrapartida, as vítimas mortais associadas ao Estado Islâmico no Grande Sahara (EIGS) registaram uma diminuição de 7% em 2023 (para 2.448 vítimas mortais).

VIOLÊNCIA DE GEUPOS MILITANTES ISLAMISTAS NO SAHEL EM 2023

  • O Burkina Faso registou 67% das mortes relacionadas com os militantes islamistas no Sahel (7.762). Este número é mais do dobro do número de mortes registadas em 2022.
  • Este é o terceiro ano consecutivo em que o Burkina Faso regista o maior número de atos de violência extremista na região. Os grupos de militantes islamistas, principalmente Ansaroul Islam e outras entidades JNIM, cercaram pelo menos 36 cidades burquinenses e controlam atualmente mais de metade do território do país.
  • O Mali é responsável por 34% da violência militante islâmica registada na região (1.014 ocorrências e 2.863 mortes).
  • O Níger, que sofreu um golpe de Estado em meados de 2023, registou um aumento de 9% da violência em relação a 2022 (para 231 eventos registados) e um aumento de 48% nas mortes relacionadas (793). A maioria destas mortes ocorreu após o golpe de Estado. A grande maioria (93%) das vítimas mortais ligadas à violência contra civis no Níger provém do ISGS (242 vítimas mortais).
  • O Benim continuou a registar uma escalada de violência militante islâmica, na sua região norte. Como resultado das repercussões do Burkina Faso, registou-se uma duplicação dos eventos violentos e das mortes registadas (para 150) no Benim em 2023. Entretanto, a violência militante islâmica no Togo atingiu um novo patamar em 2023, com 14 eventos registados e 69 vítimas mortais.

Tabela 4 - Escalada de fatalidades ligadas a militantes islâmicos no Sahel

  • Segundo as melhores estimativas, há mais de 330.000 refugiados e 2,5 milhões de pessoas internamente deslocadas (PID) do Burkina Faso, Mali e Níger. Só no Burkina Faso há mais de 2 milhões de deslocados.

Somália

  • A Somália registou um aumento de 22% no número mortes em 2023, atingindo um recorde de 7.643 mortes. Praticamente, toda esta violência é atribuída a incidentes que envolvem o al Shabaab.
  • Isto representa o triplo do número de vítimas mortais desde 2020.
  • A maioria dos acontecimentos violentos (65%) e das vítimas mortais (77%) esteve associada a combates, o que reflete a continuação da ofensiva do governo federal da Somália contra o al Shabaab

Tabela 5 – Tendências de Fatalidades Ligadas ao Al Shabaab

  • Em 2023, o Quénia registou uma duplicação do número de vítimas mortais (279) resultantes da violência com o al Shabaab, principalmente ao longo da fronteira com a Somália. No entanto, estima-se que 96% das mortes nesta região ocorram na Somália.
  • O conflito, combinado com a situação de seca e as inundações, fez com que 4,3 milhões de pessoas enfrentassem níveis superiores de crise (IPC Fase 3+) de insegurança alimentar na Somália.

Bacia do Lago Chade

  • Os eventos violentos de grupos militantes islâmicos aumentaram 25% no último ano (para 1.203), invertendo o declínio da violência a que a região tinha assistido desde 2020.
  • As 3.769 vítimas mortais ligadas a estes acontecimentos violentos marcam uma tendência para um contínuo de mortes nos últimos anos. No entanto, o teatro de operações na bacia do Lago Chade continua a ser o terceiro mais mortífero do continente, com 16% de todas as mortes causadas por militantes islâmicos.
  • O Boko Haram e o Estado Islâmico na África Ocidental (ISWA) estão ligados a quase todos os eventos extremistas violentos nesta região, enquanto o Ansaru, localizado na parte noroeste da Nigéria, mostrou um comportamento praticamente ausente.

Tabela 6 – Fatalidades ligadas ao Boko Haram e à ISWA em 2023

  • Muito embora exista uma diferença quanto à sua tipologia, os eventos violentos ligados ao Boko Haram e ao ISWA apresentam uma distruição quase muito homogénea . O ISWA está associado a um maior número de batalhas e de atos de violência à distância, bem como ao nuúmero de mortes associado , enquanto o Boko Haram é responsável por 59% dos ataques contra civis. Este facto corrobora as informações anteriores de que o Boko Haram é o mais predador dos dois grupos.
  • Na tentativa de controlar o território, os recursos e os combatentes, o Boko Haram e o ISWA estão a lutar entre si, bem como contra as forças armadas da região do Lago Chade. Isto para além da violência generalizada e da criminalidade registadas principalmente no noroeste da Nigéria, onde 3.600 pessoas foram raptadas e muitas mortas em 2023.

Norte de Moçambique

  • A violência dos militantes islâmicos no norte de Moçambique registou uma queda de 71% no último ano. Em 2023, registaram-se 127 eventos violentos e 260 vítimas mortais.
  • Esta mudança pode ser atribuída à ofensiva do ano passado pelas forças da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) e do Ruanda, que foram destacadas em julho de 2021 para ajudar os militares moçambicanos a desalojar os extremistas das cidades de Palma e Mocimboa da Praia.
  • A resposta conjunta das forças no terreno permitiu recuperar o controlo de 90 % do território dos insurgentes e expulsar os militantes para as zonas rurais na parte nordeste do distrito de Macomia, onde agora operam em pequenos grupos sem bases, realizando ataques aleatórios contra civis.
  • O ano passado foi marcado por uma queda de 80% na violência contra civis. Este facto é particularmente digno de nota, uma vez que a violência dos militantes islâmicos no norte de Moçambique sempre se distinguiu pelos níveis extraordinariamente elevados de violência contra civis, que nalguns anos excederam 50% de todas as fatalidades. Em 2023, a violência contra civis representou 23% de todas as mortes. Este número inclui 53 ataques contra civis e 61 vítimas mortais (em comparação com 286 e 438, respetivamente, em 2022).
  • A questão que se coloca no próximo ano é verificar se estes progressos podem ser mantidos, dada a capacidade de resistência dos militantes nesta região. É igualmente necessário prestar atenção à resolução dos problemas subjacentes na região de Cabo Delgado que têm estado na origem da instabilidade. Além disso, há ainda 850.000 pessoas deslocadas internamente que ainda não regressaram às suas casas.

Tabela 7 - Comparação dos tipos de violência militante islâmica por região em 2023

Norte de África

  • Os eventos violentos ligados a grupos militantes islâmicos na região do Norte de África diminuíram 98% no último ano. Em 2023, registaram-se apenas 4 eventos.
  • As mortes relacionadas com estes eventos também diminuíram 98%, para um número estimado de 7.
  • Embora se trate de uma continuação dos progressos registados nos últimos 8 anos, esta é uma grande transformação para a região que, em 2015, registou 4.097 vítimas mortais ligadas a grupos militantes islâmicos.
  • Nos últimos anos, a ameaça extremista violenta no Norte de África tem-se concentrado principalmente na Península do Sinai, no Egipto. A mudança dramática em 2023 reflete, portanto, uma queda nos incidentes violentos de militantes islâmicos no Sinai, de 156 em 2022 para apenas um. O último evento do Estado Islâmico no Sinai, ocorreu em 2023, contra os militares egípcios.
  • Apesar do declínio histórico dos eventos extremistas violentos nesta região, as Nações Unidas e outras organizações acreditam que tanto o Estado Islâmico na Líbia como a Al Qaeda no Magrebe Islâmico permanecem firmemente enraizados na parte sul da Líbia e representam uma ameaça permanente.

Tabela 8 - Declínio da violência de grupos militantes islâmicos no Norte de África