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Diversos panoramas da COVID-19 em África

Não há apenas um único caminho para a COVID-19 em África, mas, sim, múltiplos e distintos perfis de risco. Esses perfis destacam o papel diferenciador que a imprensa livre, a transparência governamental e os conflitos desempenham na resposta à pandemia em África.


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Africa’s Varied COVID Landscapes

O número de casos registados da COVID-19 em África tem aumentado consistentemente desde o primeiro episódio confirmado no Egito em 15 de fevereiro de 2020. A partir de 1º de maio, o número de casos registados tem duplicado a cada três (3) semanas. A experiência de África com anteriores pandemias sugere que a luta contra o novo coronavírus está ainda numa fase inicial do que parece vir a ser um desafio durante vários anos.

Uma análise precisa da COVID-19 em África continua a ser dificultada pelo limitado número de testes e de registos de casos. Há uma grande variação na capacidade de realização de testes, no comprometimento com o processo de testagem, e no registo de casos e mortes pelo coronavírus. Como resultado, os países que estão a realizar mais testes ou a registar o maior número de casos podem não corresponder necessariamente aos países mais afetados ou ameaçados pela pandemia.

Não obstante reconhecerem-se estas limitações na recolha dos dados, o perfil de transmissibilidade reportado do coronavírus em África está a mudar ao longo do tempo. O tamanho da população urbana, a idade relativa da população total, o nível de liberdade de imprensa e o nível de exposição internacional emergiram como os fatores de risco mais correlacionados com os casos registados em todo o continente. A África do Sul destaca-se no número de casos registados com 43% do total do continente, embora as correlações com os principais fatores de risco permanecem robustas, mesmo quando a África do Sul é excluída.

Risk Factors Most Linked to Reported Cases of COVID-19 – Since May 1

Exposição Internacional, população urbana, idade relativa da população, e liberdade de imprensa emergiram como os fatores mias fortemente correlacionados com os casos registados em África.

À medida que a transmissão dentro dos países cresce, o perfil de risco de cada país torna-se progressivamente mais relevante moldando o curso da pandemia. Por conseguinte, o reconhecimento dos pontos fortes e das vulnerabilidades dos distintos perfis de risco em África, é fundamental para se mitigarem os efeitos da COVID-19.

As diferentes trajetórias do COVID em África

Uma análise da propagação da COVID-19 em África mostra que o coronavírus não tem uma única trajetória no continente. Pelo contrário, existem vários e distintos padrões de experiências na luta contra a pandemia, refletindo a grande diversidade no continente. O Africa Center identificou sete perfis de maior risco da COVID-19 em África. Esses perfis baseiam-se numa combinação dos seguintes fatores: dimensão da população, dimensão urbana, magnitude dos conflitos e dos deslocados, demografia e governação. Embora seja possível que certos países possam enquadrar-se em mais do que um perfil, estas categorias facilitam uma compreensão mais precisa da propagação da COVID-19 no continente e, em última análise, a identificação de qual a melhor forma de se mitigar seus efeitos.

Países Porta de Entrada

Chart 1 Gateway Countries - COVID Landscapes

Risk Profile: Gateway Countries - COVID Landscapes

Os Países Porta de Entrada possuem os níveis mais elevados de comércio internacional, viagens, turismo e tráfego portuário no continente. Não é por coincidência que esse grupo é distinto, na medida em que representa 64% de todos os casos registados de COVID-19 e 69% das mortes registadas no continente, apesar de representar apenas 18% de sua população total. Esta categoria inclui alguns dos maiores países e economias de África. Por outras palavras, esse grupo foi exposto precocemente e de forma abrangente à pandemia, e tem lutado desde o início para controlar a transmissão. Este grupo conta também com um segmento relativamente grande das suas populações a viver em áreas urbanas, onde se incluem as megametrópoles do Cairo e de Joanesburgo-Pretória. Esta categoria de Países Porta de Entrada é também caracterizada como possuindo os sistemas de saúde mais robustos do continente. Por conseguinte, esses países têm sido, em geral, proactivos na realização de testes e no registo de casos durante a crise. Até ao momento, os Países Porta de Entrada  são responsáveis por cerca de 53% de todos os testes realizados no continente.

Apesar de menos conhecido, este grupo tem também uma população com uma idade média aproximadamente dez anos mais velha do que o padrão africano (28,5 vs. 20), contribuindo para a vulnerabilidade dessas populações uma vez expostas ao vírus. Esta categoria tem também um nível relativamente mais baixo de liberdade de imprensa, e em alguns casos, nomeadamente na Argélia e no Egito, foram detidos jornalistas por divulgar informações sobre a COVID-19. Tais restrições provavelmente reduziram a consciencialização e a confiança na comunicação por prte dos governos, dificultando assim a eficácia de uma resposta à pandemia. Na realidade a pontuação média deste grupo é de 17,5 (em 20 possíveis) no que se refere à vulnerabilidade de risco nos quatro (4) fatores mais fortemente correlacionados com casos registados: exposição internacional, população urbana, idade e liberdade de imprensa. A mediana africana para esses quatro (4) fatores é 11.

Microcosmos Complexos

Chart 2: Complex Microcosms - COVID Landscapes

Risk Profile: Complex Microcosms - COVID Landscapes

A categoria Microcosmos Complexos é composta por países com grandes populações urbanas, panoramas sociais e geográficos bastante variados, e com desafios de segurança complexos, reflexos da grande diversidade observada em toda a África. O tamanho médio da população na categoria Microcosmos Complexos (87 milhões) é maior do que qualquer uma das outras categorias, com esses países, em média, ocupando territórios de 1,1 milhão de quilómetros quadrados. Também contam com populações urbanas que estão no quintil superior de toda a África. Muitos dos seus habitantes vivem em assentamentos informais densamente povoados, tornando-os particularmente suscetíveis à rápida transmissão do novo coronavírus. Adicionalmente, muitos desses indivíduos trabalham no setor de serviços, em ocupações tais como, motoristas e trabalhadores domésticos, estando em contacto diário com outras redes sociais, o que lhes aumenta sua vulnerabilidade à exposição e à transmissão. Contudo, os casos registados de COVID-19 com este perfil representam apenas 13% do total de casos em África, apesar desta categoria incluir 35% da população total.

Parte do efeito aparentemente menos significativo da pandemia neste grupo é porque estes países apresentam níveis relativamente mais baixos de exposição internacional do que os Países Porta de Entrada , o que resultou numa transmissão inicial mais lenta do vírus. Para além disso, os Microcosmos Complexos têm, em média, populações mais jovens do que a mediana africana. Essa característica demográfica é uma provável atenuante dos efeitos da pandemia mais devastadores. Atualmente, essa vulnerabilidade mais moderada encontra-se refletida no fator de risco mediano dos países integrantes da categoria Microcosmos Complexos com um fator de risco de13 (em 20) para os quatro (4) fatores mais fortemente correlacionados.

Ainda assim, este grupo apresenta níveis de risco mais elevados noutros fatores importantes, o que provavelmente fará estes países ficarem vulneráveis durante toda a crise. Designadamente, esses países dispõem de sistemas de saúde relativamente menos robustos, o que limita a sua capacidade para testar, registar e responder às transmissões. Noutras palavras, é provável que haja uma significativa subnotificação de casos de COVID-19 entre os países que compõem a categoria de Microcosmos Complexos. Acresce ainda o facto de quatro dos cinco países nesta categoria enfrentarem conflitos ativos e todos os cinco terem níveis elevados de refugiados e pessoas deslocadas internamente.

Além de serem potenciais aceleradores da transmissão, os conflitos são uma enorme fonte de instabilidade para os governos que estão a tentar mobilizar recursos para conter o fluxo do vírus. Complementarmente, o elevado número de populações deslocadas à força apresenta um risco singular de aceleração de transmissões que poderiam rapidamente arruinar esses grupos de pessoas já de si vulneráveis, aumentando a propagação da COVID-19 nesses países. O crescente número de surtos registados nas comunidades de refugiados e deslocados internos em África enfatiza esses riscos. Em consequência destas e de outras vulnerabilidades, os países da categoria Microcosmos Complexos têm o nível mais elevado de fatores de risco totais (35 em 45 possíveis) entre todos os grupos avaliados. Por conseguinte, esses países podem muito bem tornar-se núcleos de transmissão à medida que a pandemia progride.

Polos Estáveis

Chart 3: Stable Hubs - COVID Landscapes

Risk Profile: Stable Hubs - COVID Landscapes

A categoria Centros Estáveis inclui países com populações entre 20 e 50 milhões. A inexistência de conflitos ativos constitui uma característica diferenciadora dos países deste grupo. Um reflexo da natureza básica do grupo é que seus fatores de risco espelham a mediana africana. Como tal, os Centros Estáveis enfrentam uma vulnerabilidade mais baixa em termos da COVID-19 do que os grupos de Países Porta de Entrada ou de Microcosmos Complexos porque as suas populações urbanas são relativamente mais pequenas e menos densas, e os seus meios de comunicação independentes são comparativamente mais robustos. O grupo distingue-se ainda mais da categoria Países Porta de Entrada na medida em que tem um nível moderado de exposição internacional, limitando o fluxo de transmissões de fora do continente

A relativa estabilidade desta categoria permite que esses países dediquem maior atenção e recursos ao desafio apresentado pela COVID-19. Alguns países desta categoria, tais como o Uganda, enfrentam uma maior vulnerabilidade como resultado do elevado número de pessoas deslocadas à força que estão a acolher. No geral, porém, o facto de estes estados possuírem um nível inferior de exposição internacional, menores populações urbanas, uma população relativamente mais jovem e os meios de comunicação mais abertos resulta num fator de risco total de 11,5 (em 20) para as quatro (4) variáveis mais correlacionadas.

Embora menos vulnerável aos fatores de risco da COVID-19 do que alguns dos outros perfis, este grupo destaca-se pelo nível de transparência governamental. De facto, existe uma relação inversa entre esses fatores de governação e casos registados do coronavírus. Por outras palavras, países relativamente mais transparentes, tais como, Gana, Costa do Marfim e Senegal, registam um número consideravelmente maior de casos do que Angola, que apresenta um dos níveis mais baixos de casos registados por milhão de pessoas no continente. Por conseguinte, a falta de transparência aliada a sistemas de saúde demasiado frágeis para poderem realizar os testes suficientes poderia levar a um aumento da transmissão em alguns dos países da categoria Centros Estáveis, sem a atempada consciencialização pública e capacidade resposta

Megalópoles / Estados Fragilizados

Chart 4: Clustered Cities & Fragile States - COVID Landscapes

Risk Profile: Clustered Cities Fragile States - COVID Landscapes

No que diz respeito à exposição à COVID-19 em África, a categoria Megametrópoles/Estados Fragilizados inclui os cerca de doze países africanos, localizados principalmente na região de Sahel e do Corno de África, caracterizados por apresentarem densas áreas urbanas e, ao mesmo tempo, enfrentarem um conflito ativo ou um elevado número de deslocados à força. Essa combinação não é uma coincidência, uma vez que a instabilidade tende a levar as pessoas para as cidades. O resultado final, é uma mistura composta de fatores de risco, incluindo populações urbanas densas, sistemas de saúde pública mais frágeis e constrangimentos na gestão dos recursos para combater simultaneamente a pandemia e os problemas de segurança.

A densidade urbana pode não ser a característica mais visível ao pensar-se em muitos dos países nesta categoria, sendo que sua população mediana é de apenas 14 milhões e vários deles apresentam vastas extensões de território pouco habitadas. No entanto, uma parcela desproporcionalmente grande da população desses países vive em áreas urbanas. Com uma média de 4.200 pessoas por quilómetro quadrado, esse grupo tem o nível de densidade populacional urbana mais elevado do continente, comparável com cidades como Bogotá e Cabul. Tal nível de densidade populacional cria um risco de transmissão da COVID-19 semelhante aos países mais urbanizados, embora, a nível nacional, os países da categoria Megalópoles/Estados fragilizados estejam entre os menos densamente povoados do mundo.

O risco da COVID-19 para esta categoria é agravado pelo fato de que a maioria dos países do grupo enfrenta algum nível de conflito ativo. Além disso, todos acolhem um número significativo de populações deslocadas (em média 6,5% da população total). Esses fatores tornam esses países mais vulneráveis a transmissões aceleradas e potencialmente não detetadas. Agravando ainda mais o desafio da pandemia para este grupo está o fato de que a maioria desses países também possui sistemas de saúde pública relativamente mais frágeis, contribuindo para a quantidade limitada de testes e de casos registados (e uma incerteza sobre a gravidade da ameaça). Adicionalmente, níveis relativamente baixos de transparência e de liberdade de imprensa criam um ambiente em que um aumento nas transmissões seria subnotificado, potencialmente facilitando uma maior propagação.

Esses riscos, potencialmente perigosos, são atenuados pelo fato de este grupo ter os níveis mais baixos de exposição internacional e populações com as faixas etárias mais jovens do continente. Essas características contribuem para que o fator de risco do grupo Megametrópoles/Estados fragilizados obtivesse uma modesta pontuação de 10 (em 20) para as quatro (4) variáveis mais correlacionadas. A fraca pontuação obtida pelos 11 países deste perfil, reflete o facto de representarem apenas 6% dos casos registados da COVID-19 em África, embora compreendam 12% da população total de África. No entanto, os fatores de risco subjacentes a este grupo tornam-no vulnerável a súbitas mudanças.

Países Pequenos/Abertos e Países Pequenos/Restritos

Chart 6: Small-Open Countries - COVID Landscapes

Chart 5: Small-Restricted Countries- COVID Landscapes

Risk Profile: Small/Open Countries - COVID Landscapes

Risk Profile: Small/Restricted Countries - COVID Landscapes

Os perfis de risco da COVID-19 para as categorias Países Pequenos/Abertos e Países Pequenos/Restritos são muito semelhantes no que se refere às suas características estruturais. O grupo é integrado por cerca de duas dezenas de países africanos com uma população total mediana de 5,5 milhões de pessoas, populações e densidade urbanas relativamente pequenas, idades medianas semelhantes e baixos níveis de exposição internacional. Além disso, os dois grupos são relativamente estáveis, com baixos níveis de conflito e de deslocamentos forçados. Em suma, a sua vulnerabilidade coletiva à COVID-19 é relativamente baixa, o que é confirmado pelo número relativamente menor de casos registados em comparação com a população total (6% contra os 11% dos totais africanos).

A diferença mais importante entre estes dois grupos com populações menores reside na sua governação. A categoria Países Pequenos/Abertos é integrada por países com uma tipologia caraterizada por uma maior liberdade de imprensa e transparência. A categoria Países Pequenos/Restritos inclui aqueles que ficam abaixo da mediana na combinação de medidas de liberdade de imprensa e transparência. Tendo em conta a importância vital da informação na educação do público, para conquistar a sua confiança, organizar ações coletivas, identificar e dar resposta aos casos, e na adaptação às mudanças na evolução da pandemia, esta distinção é uma característica determinante do perfil de risco de cada destes grupos para a COVID-19.,

As diferenças entre os tipos de governação são espelhadas nas suas experiências divergentes com a COVID-19. Os países do grupo Pequenos/Abertos têm, em média, realizado 30% mais testes para a COVID-19 do que os do grupo Pequenos/Restritos (43.673 contra 33.593). Apesar disso, os países do grupo Pequenos/Restritos registaram 75% mais casos e mais casos por milhão de pessoas (348 contra 201).

Em suma, os países Pequenos/Abertos aparentemente estão testando mais e diminuindo a curva das transmissões mais rapidamente do que os países Pequenos/Restritos. A título de exemplo, o elevado nível de transparência, é citado como um fator fundamental para permitir que a Tunísia tenha reduzido drasticamente seus números de casos.

Baixa Transparência

Chart 7: Low Transparency Countries - COVID Landscapes

Risk Profile: Low Transparency Countries - COVID Landscapes

A categoria final de perfis africanos da COVID-19, Países de Baixa Transparência, inclui países (Tanzânia, Burundi e Eritreia) que não estão ativamente a testar nem a registar os seus casos de coronavírus. Por conseguinte, é muito difícil determinar com confiança a gravidade com que a pandemia está a afetar esses países. Considerando aquilo que foi reportado, a Tanzânia, o Burundi e a Eritreia indicaram respetivamente 8, 16 e 41 casos por milhão de habitantes, A mediana africana é de 189 casos por milhão. A utilização desta informação como referência, sugere que a carga real de casos nesses três (3) países pode ser de 5 a 24 vezes mais alta do que a atualmente registada. Embora não incluídos nesta categoria por registarem casos mais consistentemente, os seguintes países africanos notabilizaram-se pelo registo de um número limitado de casos por milhão: Angola (12 casos por milhão), Uganda (21), Moçambique (34) e Zimbabué (51).

Ironicamente, os países da categoria Baixa Transparência que têm uma exposição internacional relativamente baixa e populações jovens não estão necessariamente em risco elevado. Na realidade, o total do fator de risco mediano para os 4 fatores mais correlacionados é de apenas 11 (em 20), colocando-os no mesmo nível do perfil dos Países Pequenos/Restritos. No entanto, ao não comunicarem a gravidade da ameaça às suas populações e ao não tomarem as devidas precauções, esses países podem estar a amplificar significativamente a dimensão do problema que enfrentam.

Implicações

Esta análise realça a importância de evitar que se tenha uma única narrativa africana para o coronavírus. Enquanto a disparidade na testagem e o registo de casos limitam uma análise mais aprofundada, no continente assiste-se ao desenrolar de experiências distintas com a COVID-19. Cada um dos perfis enfrenta diferentes níveis e tipos de risco relacionados com a COVID-19. Certos perfis, particularmente o dos Países Porta de Entrada, foram mais suscetíveis nas fases iniciais da pandemia devido aos seus níveis mais elevados de exposição internacional. No entanto, outras categorias, em especial a dos grupos Microcosmos Complexos e Megametrópoles/Estados Fragilizados, podem ficar mais vulneráveis ao longo do tempo devido às suas grandes populações urbanas, aos conflitos existentes ou às grandes comunidades de refugiados e deslocados internos, aos níveis relativamente baixos de transparência e liberdade de imprensa.

Bar Chart: Total of Most Correlated Factors - COVID Landscapes

Bar Chart: Composite of Nine Risk Factors - COVID Landscapes

A gestão destas vulnerabilidades varia de acordo com o perfil de risco. Apesar dos níveis de risco poderem diferir entre os grupos, será necessária uma vigilância contínua em todo o continente, uma vez que todas as categorias continuam a mostrar um aumento no número dos casos registados. Os países de riscos mais elevados devido a fatores estruturais, tais como exposição internacional, grandes populações urbanas e com uma faixa etária relativamente mais alta, terão de continuar seus esforços para conter as transmissões entre as populações mais vulneráveis. Isso implicará continuar a limitar reuniões de grande ou alta densidade, especialmente em ambientes fechados, e educar/consciencializar os cidadãos para a importância do uso de máscaras. Do mesmo modo, os equipamento de proteção para os  profissionais da saúde em África tornar-se-á num multiplicador vital de forças para manter a segurança da população em geral, no que está a tornar-se numa maratona em vez de um sprint. A robustez do sistema de saúde pública em África reside nas suas redes de extensão de saúde comunitária, que melhoram a prevenção e a mudança de comportamentos. A prevenção continua a ser a prioridade em África e, para esse efeito, torna-se necessário garantir que os profissionais de saúde estejam em segurança.

Log Graph of Cumulative Reported Cases of COVID-19 - COVID Landscapes

Esta análise destacou os desafios acrescidos que os países afetados por conflitos enfrentam nas suas respostas à COVID-19. Os líderes políticos e o público devem saber gerir os interesses concorrentes pelos recursos limitados a fim de responder a ambas as ameaças. Um grande número de pessoas que vive em aglomerações informais, bem como comunidades de refugiados ou deslocados, muitas vezes em locais exíguos, representam focos de potenciais surtos de transmissão nesses países. As melhores práticas recomendam um envolvimento proactivo com os líderes comunitários desses locais de alta densidade, para pôr em prática medidas para fomentar o distanciamento social, a lavagem das mãos, as opções alternativas de transporte, o isolamento de indivíduos com sintomas e o rastreamento dos contatos das pessoas infetadas.

A competição por recursos concorrentes criada pela existência de conflitos podem inibir tais iniciativas — sendo essa a lógica subjacente ao apelo do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, para um cessar-fogo global durante a pandemia, apelo esse que foi adotado pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas. Deste modo, a relação entre a COVID-19 e os conflitos deverá igualmente dar maior ímpeto à iniciativa da União Africana para “Silenciar as Armas”. As limitações para se realizar testes em ambientes afetados por conflitos podem facilitar a propagação do coronavírus sem que isso seja imediatamente visível. Essa ambiguidade é ainda complicada pelo fato de que a transparência dos governos e a liberdade de imprensa tendem a ser mais limitadas nos países afetados por conflitos.

Esta análise destacou a importância da governação, da transparência e de uma imprensa livre para se combater a pandemia também fora das zonas de conflito. Os registos de casos da COVID-19 tendem a estar correlacionados com uma governação mais transparente. À medida que a pandemia se expande por toda a África, a imprensa livre continuará a ser um componente integral para atenuar o surto, servindo como um sistema de alerta antecipado e ajudando a direcionar as respostas da saúde pública. Do mesmo modo, a transparência do governo será fundamental para gerar a confiança e a conformidade com as medidas de saúde pública necessárias para retardar o vírus. Uma imprensa livre é, portanto, um instrumento fundamental não só para a resposta à pandemia em África, mas também para a estratégia de resiliência do continente de uma forma mais geral. Da mesma forma, a transparência dos governos será fundamental para gerar confiança e permitir a conformidade com as medidas de saúde pública necessárias para retardar a propagação do vírus.


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