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Custos humanos devastadores à medida que a variante Delta da COVID se apossa de África

O surto da variante do coronavírus Delta em África deverá causar centenas de milhares de mortes nos próximos meses, na ausência de um aumento drástico de medidas preventivas e do acesso à vacina contra a COVID.


Embora algumas partes do mundo tenham, aparentemente, começado a virar a página da pandemia, a terceira onda da COVID tem feito as manchetes das notícias por toda a África. Tem-se registado um aumento quase para o triplo do número de casos de COVID e 30.000 mortes no continente desde o final de abril, altura em que a variante Delta surgiu no Uganda.

O pânico e o medo instalam-se em muitas comunidades, à medida que o número de pessoas que perdem familiares e amigos aumenta exponencialmente.

Uma terceira onda à medida que a variante Delta se torna dominante

  • 26 países africanos viram os números confirmados de casos COVID-19 disparar aproximadamente 50% ou mais em junho, em comparação com maio.
  • 17 destes 26 países confirmaram casos da variante Delta da COVID que provocaram uma onda mortífera na Índia.
  • Verificou-se que a variante Delta, agora confirmada em 22 países africanos,  se espalhou 225 por cento mais rapidamente do que o vírus original.
  • 5 600 pessoas morreram de COVID em toda a África na primeira semana de Julho. Isto representa um aumento de 43 por cento em relação à semana anterior. As taxas reais são provavelmente ainda mais elevadas, dado que muitos dos países afetados têm taxas de testes positivos próximas ou superiores a 15%.

O cenário ameaçador da Índia

  • Os casos COVID diários móveis em África por população triplicaram num mês, de 0,9 casos por 100 000 pessoas para 2,8. Isto espelha o mês anterior ao surto devastador da Índia. De 18 de Fevereiro a 18 de Março, os casos na Índia por 100 000 pessoas subiram de 0,9 para 2,3. No mês seguinte subiu para 13,5 antes de atingir o pico de 30 outro mês depois.
  • A Índia e a África têm populações totais em número semelhantes (1,36 e 1,37 mil milhões, respectivamente). No início da escalada na Índia, impulsionado pela variante Delta, o país tinha contabilizado 160.000 mortes oficiais por COVID-19. Durante os meses seguintes, a Índia registou mais de 240 000 mortes. Atualmente, a África tem quase 150 000 mortes confirmadas pela COVID. Se a variante Delta continuar a alastrar, é possível um cenário catastrófico, em que o continente sofra centenas de milhares de mortes.

  • A taxa atual dos casos de mortalidade por COVID em África é de 2,58 por cento contra os 1,32 por cento da Índia.
  • Os especialistas estimam que o número real de vítimas mortais dar COVID na Índia seja superior a 1 milhão. Pensa-se que o número de mortes em África seja igualmente subestimado – a África do Sul registou oficialmente 63 000 mortes, mas o número real pode ser superior a 170 000.
  • Vários países onde a variante Delta se encontra presente, incluindo a África do Sul, a Tunísia e a Namíbia, já viram o seu índice de mortalidade per capita atingir níveis mais elevados do que a Índia alguma vez atingiu.

A prevenção e a contenção devem continuar a ser a prioridade

  • A trajetória da variante Delta na índia não é o destino. O distanciamento social, o uso de máscara, evitar reuniões de massas e a comunicação destas precauções a amigos e familiares são ferramentas, que os africanos podem continuar a utilizar para conter o aumento de casos até, e mesmo depois, do acesso à vacina poder ser aumentado.
  • Os intervenientes internacionais necessitam de intensificar os esforços no sentido de aumentar o acesso às vacinas em África, a fim de ajudar a evitar uma calamidade humanitária. Atualmente, menos de 4% dos africanos já foram vacinados, um valor muito inferior ao de qualquer outro continente.
  • Os governos africanos podem empregar meios como mensagens públicas, recolher obrigatório estratégico e planos de permanência em casa para retardar a propagação do vírus. O reforço da confiança pública entre governos e cidadãos é de valor inestimável para a obtenção de cooperação e resiliência.
  • Como foi reconhecido desde o início da pandemia, a África não dispõe de infra-estruturas hospitalares que lhe permitam contar com intervenções terapêuticas generalizadas. A prevenção, apoiada nos princípios de saúde pública estabelecidos, continua a ser a prioridade indispensável. Tais medidas, que se baseiam em agentes de saúde comunitários, experiência prévia e conhecimentos locais no combate a pandemias, têm ajudado os países africanos ao longo da primeira e da segunda vagas. Serão ainda mais importantes durante a terceira.


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