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Violência de grupos militantes islâmicos africanos mantém ritmo recorde embora esteja a abrandar

Os contornos da violência de grupos militantes islâmicos africanos estão a mudar, embora estejam a manter um ritmo recorde de distúrbios, resultando numa média de 14 eventos violentos por dia.


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Uma análise dos dados dos primeiros 6 meses de episódios violentos envolvendo grupos militantes islâmicos africanos e a sua evolução ao longo da última década, sublinha a ameaça crescente apresentada por estes atores. No entanto, esta ameaça é caracterizada por uma variação considerável em níveis e tipos de violência. As principais conclusões incluem:

  • A violência de grupos militantes islâmicos continua a concentrar-se primariamente em cinco áreas principais: Na Somália, em Sahel ocidental, na bacia do Lago Chade, a norte de Moçambique e na península do Sinai.
  • Os 5110 acontecimentos violentos projetados, ligados a estes grupos, em 2021 (baseados nos dados dos primeiros 6 meses) representam um aumento de 3% do valor recorde em 2020 de 4956 episódios violentos. Isto reflete um abrandamento dramático em relação ao aumento de 43% do ano anterior e da média anual de 20% de aumento nos 4 anos precedentes.
  • Este relativo nivelamento da atividade dos grupos militantes islâmicos em África escamoteia as diferenças significativas nas trajetórias entre e dentro das respectivas áreas. Praticamente todos os aumentos de atividades violentas estão concentrados em duas das cinco regiões principais da atividade extremista violenta em África: no Sahel e na Somália. Por sua vez, a atividade violenta nestas áreas encontra-se ligada à Frente de Libertação do Macina (FLM) no Sahel e em al Shabaab na Somália.

Fonte dos dados: Localização do conflito armado e estudo dos dados do acontecimento

Sahel

  • O Sahel está em vias de atingir um aumento de 33% em termos de atividade militante islamista, desde 2020. Isto representa uma escalada persistente de acontecimentos violentos nesta região, desde 2016. Os 1552 acontecimentos projetados em 2021 representariam um aumento de 16 vezes mais durante este período. Notavelmente, quase todo este aumento foi gerado pela Jama’at Nusrat al Islam wal Muslimin (JNIM), uma coligação de grupos militantes islâmicos, composta maioritariamente pela FLM.
  • Este padrão também se reflete na taxa de mortalidade. As mortes ligadas à coligação JNIM encaminham-se para um aumento de 20% em 2021 (para mais de 2400 mortes). Mais uma vez, isto é maioritariamente instigado pela FLM. As mortes relatadas ligadas à FLM já ultrapassaram o seu nível em 2020 e encaminham-se para o dobro em 2021. É importante referir que três quartos das mortes ligadas à FLM estão associadas aos combates (com as forças de segurança e outros grupos militantes). Isto reflete uma tendência atual para uma maior resistência à expansão da FLM, observada desde 2016.
  • Em contrapartida, a violência associada ao outro grande instigador da atividade dos grupos militantes islâmicos em Sahel, o Estado Islâmico do Grande Saara (ISGS), apresenta uma frequência de menos um quarto de acontecimentos e 10% menos mortalidade do que em 2020.
  • Nos últimos anos, a violência dos grupos militantes islâmicos em Sahel também tem vindo a expandir-se geograficamente, penetrando mais Burkina Faso e em direção às fronteiras com os estados litorais.

Somália

  • A situação na Somália caminha para um aumento de 16% em eventos militantes islâmicos e mortalidade em 2021. O Al Shabaab continua a ser o grupo mais ativo em África e será responsável por mais de 2000 eventos violentos em 2021. Esta atividade violenta aumentou por volta das eleições parlamentares e presidenciais na Somália, que o al Shabaab prometeu sabotar. O aumento da violência do al Shabaab também está associado ao aumento de combates com as forças de segurança, atualmente a apresentar um aumento de 28% em 2021.

Fonte dos dados: Localização do conflito armado e estudo dos dados do acontecimento

Bacia do Chade

  • Na bacia do Lago Chade, ambos o Boko Haram e o Estado Islâmico na África Ocidental (ISWA) estão a apresentar uma diminuição de atividade. O Boko Haram teve uma diminuição de quase metade dos eventos violentos em 2020. Isto é provavelmente associado, pelo menos em parte, à perda do seu líder histórico, Abubakar Shekau, em Maio de 2021.
  • Em contrapartida, o ISWA, que, desde 2017, tem sido associado a mais eventos violentos do que o Boko Haram, mantém o mesmo ritmo de atividade violenta em 2021. Além disso, o ISWA encaminha-se para um aumento de 20% da mortalidade em 2021, praticamente todo associado a um aumento dos combates (com as forças de segurança e outros grupos militantes). O aumento dos combates é uma tendência observável desde 2018.
  • Apesar das flutuações, a mortalidade associada a grupos militantes islâmicos na Bacia do Lago Chade mantém-se comparável em escala às registadas no Sahel e na Somália. Além disso, a morte de Shekau frisa que a atividade militante islâmica nesta área será altamente fluída durante a segunda metade de 2021.

Fonte dos dados: Localização do conflito armado e estudo dos dados do acontecimento

Moçambique

  • Em Moçambique, o Ahlu Sunnah wa Jama’a (ASWJ) também se encontra em linha para um declínio da atividade anual, apesar do ataque de alto perfil em Palma, em Março de 2021. Em geral, o ASWJ encaminha-se para menos um terço de eventos violentos e mortalidade em comparação com 2020.

África do Norte

  • O norte de África continua a registar uma redução na atividade dos grupos militantes islâmicos, uma tendência desde 2015. Praticamente todos os 134 eventos violentos registados no norte de África, durante a primeiro metade de 2021, aconteceram no Egito e encontram-se associados a um ramo do Estado Islâmico (ISIS), o Estado Islâmico da Província de Sinai.

Violência contra civis

  • Os dados revelam um aumento da violência contra civis em Sahel. A coligação JNIM, liderada pela FLM, já cometeu mais ataques a civis na primeira metade 2021 (250) do que em todo o ano de 2020 (177). Embora o ISGS apresente uma diminuição de eventos violentos na primeira metade de 2021, tem sido responsável por um aumento dos ataques a civis. Esses ataques constituíram 61% dos acontecimentos violentos ligados ao grupo. Para além disso, o número de mortes ligadas a ataques do ISGS a civis aumentou em 136 por cento.
  • Esta tendência de maior violência contra civis em Sahel revela a falta de apoio público a estes grupos militantes islâmicos e a dependência crescente do recurso à intimidação para fazer avançar os seus objetivos paroquiais.

Fonte dos dados: Localização do conflito armado e estudo dos dados do acontecimento