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Em 2022, a violência associada a grupos radicais islâmicos resultou num aumento de 50% do número de mortes, comparativamente ao ano anterior

Na continuação de uma tendência de subida ao longo da última década, a ocorrência de eventos violentos ligados a grupos de militantes islâmicos em África, aumentou 22% enquanto o número de mortes aumentou 48%, em 2022.


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Destaques

  • A violência ligada a grupos de militantes islâmicos em África aumentou 22%(abrangendo 6.859 eventos), em 2022. Estes números representam um novo máximo de casos de violência extremista, o dobro eventos verificados entre 2019 e 2021.
  • A violência de grupos islâmicos em África permanece concentrada em cinco cenários, com diferentes atores e contextos – o Sahel, a Somália, a Bacia do Lago Chade, Moçambique e o Norte de África.
  • A violência islamista no Sahel e na Somália representou 77% do total de eventos violentos ocorridos em África, em 2022.
  • O número de mortes associado à violência de grupos de militantes islâmicos, registou um aumento significativo (50%), comparativamente ao anterior.

Atividade militante islâmica por teatro

  • O número estimado de mortes (19.109), em 2022, supera o valor anteriormente registado (18.850), em 2015, altura em que o grupo islâmico Boko Harama registava uma elevada atividade. Também marca uma reversão acentuada em relação a 2021, que assistiu a uma ligeira queda nas mortes — para 12.920.
  • O aumento do número de mortes surge diretamente associado a um aumento da violência no Sahel e na Somália (representando 74% do total de mortes registadas em África), enquanto o número de mortes devido à violência extremista na Bacia do Lago Chade, Moçambique e Norte de África, estabilizou ou decresceu, no ano passado.
  • Este elevado número de mortes causado por grupos militantes islâmicos, ficou marcado por um aumento de 68% de mortes envolvendo civis e ataques remotos (que na maioria da situações tem como alvo civis).

Mortes associadas a grupos militantes islâmicos em África por cenárioTEATRO

Sahel

  • Com 2.737 atos de violência por grupos de militantes islâmicos, o Sahel ocidental (Burkina Faso, Mali e o Oeste do Níger) registaram o maior aumento (36%), em 2022, no continente africano.
  • O número de mortes no Sahel, envolvendo grupos militantes islâmicos, aumentou de forma mais significativa (63%), num total de 7.899 mortes. Desde 2020, o Sahel registou o dobro (um aumento de 90%) do número mortes e mais do dobro do número de caso de violência (um aumento de 130%) envolvendo grupos de militantes islâmicos.
  • O período anteriormente referido coincide com o golpe no Mali, por uma junta militar, em agosto de 2020, justificado como necessário para enfrentar a ameaça islâmica no país. No entanto, esta ação acabou por surtir um efeito contrário, aumentando o número de mortes, a ao aumento da violência cresceu. Além disso, um número crescente de ataques está a ocorrer num raio de 150 km de Bamako. Em 2022, a junta exigiu a saída das forças francesas, enfraquecendo o mandato da missão de paz MINUSMA e a entrada da força paramilitar russa do Grupo Wagner.

“Atualmente, o Sahel regista 40% de toda a atividade violenta provocada por grupos de militantes islâmicos, comparativamente com outras regiões de África”.

  • Um comportamento semelhante tende a surgir no Burkina Faso, onde o primeiro de dois golpes militares ocorreu em janeiro de 2022. Posteriormente, ao longo do ano, o país registou um aumento de 69% de mortes ligadas a atos de violência por grupos de militantes islâmicos, num total de 3.600 mortes.
  • Atualmente o Sahel regista 40% de toda a atividade violenta de grupos militantes islâmicos em África, comparativamente com outras regiões de África.
  • A coligação Jama’at Nusrat al Islam walMuslimin (JNIM), particularmente a Frente de Libertação de Macina (FLM), Ansaroul Islam e Ansar Dine, foi responsável por cerca de 77% dos casos de violência islâmica e 67% de mortes, no Sahel. O Estado Islâmico no Grande Sahara (EIGS) tem sido responsável por números da mesma ordem grandeza.

“Em 2022, foi possível verificar um aumento de 49% civis mortos devido à violência de grupos de militantes islâmicos, no Sahel”.

  • Em 2022, foi possível verificar um aumento significativo (49%) de civis mortos devido a atos de violência (978) perpetrados por grupos de militantes islâmicos, no Sahel. Atualmente, 60% dos civis mortos devido ao extremismo violento em África, ocorrem nesta região.
  • A entrada do Grupo Wagner neste cenário, vem contribuir para um aumento da violência contra civis no Sahel. O Grupo Wagner foi responsável pela morte de 726 civis, e de 1.984 dos militantes islâmicos, uma proporção de 1:2,7.
  • Muito embora 90% dos eventos violentos no Sahel tenham ocorrido no Burkina Faso e no Mali, em 2022 verificou-se um aumento do número de atos de violência islâmica em estados litorais do continente africano. O número de eventos no Benim aumentou de 5 para 37 e no Togo de 1 para 17.
  • De igual modo, em 2022, o Níger registou um aumento de 43% no número de eventos violentos, aumentado para 214. O número de mortes registou uma redução de 50%, ainda assim foram registadas 539 mortes.
  • A violência no Sahel já obrigou à deslocalização de mais de 2,6 milhões de pessoas. Somente o conflito no Burkina Faso é responsável pela fuga de mais de 1,8 milhões de pessoas.

Somália

  • Em 2022, a violência gerada por grupos extremistas na Somália, maioritariamente associados ao grupo islâmico Al Shabaab, provocou um aumento de 130% do número de mortes, num total de 6.225 (em 2021, 2606 pessoas perderam a vida). O número e mortes em 2022, supera o número de mortes ocorridas em 2020 e 2021.
  • Comparativamente ao ano de 2021, a Somália registou um aumento de 23% do número de ações de violência envolvendo o Al Shabaab, totalizando 2.553 casos . O total de casos associados ao grupo Al Shabaab representa 37% de todos os casos de violência extremista em África (valor inferior quando comparado a região do Sahel. Pela primeira vez em 15 anos, a Somália não registou o maior número de casos de violência extremista no continente africano.Aumento da percentagem de batalhas na Somália
  • A Somália foi palco do maior número de conflitos (cerca de 70%) entre forças governamentais e parceiros aliados, nomeadamente a Missão de Transição da União Africana na Somália (ATMIS), e o grupo extremista islâmico Al Shabaab.
  • Com a eleição do presidente Hassan Sheikh em maio, seguida do seu o apelo ao empenho total no combate ao grupo islâmico Al Shabaab, verificou-se um aumento de conflitos em 2022. Esta ofensiva expulsou o Al Shabaab das cidades que controlava, provocando ataques de retaliação. Refletindo um aumento de cerca de 25% do número de conflitos na Somália – mais acentuado no segundo semestre.
  • De igual modo, o segundo semestre de 2022, registou um aumento da violência contra civis pelo Al Shabaab (um aumento de 41% em relação ao primeiro semestre (82 para 116 ataques)). Os resultados apontam para uma retaliação do grupo extremista AL Shabaab. Exemplo disso foram os atentados ocorridos em simultâneo na cidade de Modadíscio que fizeram mais de 100 vitimas mortais entre civis e centenas ficaram feridas.
  • Em 2022, o cenário na Somália foi também marcado por um aumento de 34% nos ataques com Improvised Explosive Device (IED) e o dobro de mortes resultantes de IEDs. Um relatório da ONU refere que 613 civis foram mortos e 948 feridos. Ações das forças governamentais, milícias e outros atores não identificados também foram responsáveis por baixas civis.
  • A Somália enfrenta a quinta época de chuva fraca e prevendo-se uma sexta época de chuva abaixo da média (março-junho de 2023), afetando 8,3 milhões de pessoas. Grande parte da área com maior insegurança alimentar, situa-se em território ocupado pelo Al Shabaab. Por este motivo a ajuda alimentar acaba por não satisfazer as necessidades da população, devido a atos de sabotagem.

Bacia do Lago Chade

  • Durante o ano de 2022, a violência provocada de grupos militantes islâmicos estabilizou, após uma diminuição significativa de 32% entre 2020 e 2021. Os 952 eventos violentos observados na Bacia do Lago Chade (abrangendo quatro países: Nigéria, Camarões, Chade e sudeste do Níger) representam um aumento de 4% na atividade de grupos radicais a partir de 20211.
  • O número de mortes em consequência desta atividade (3.821), representam uma diminuição de cerca de 5% em relação ao ano de 2021, muito embora esta diminuição represente uma desaceleração da acentuada diminuição de 19% em 2020. A bacia do Lago Chade continua a ser a terceira região do continente africano em termos de número de mortes, cerca de 20%, devido à violência de grupos radicais aí estabelecidos.
  • Contudo, em 2022, esta região registou um aumento em cerca de 33% na violência contra civis, resultando numa duplicação do número de mortes (299 para 598). Uma regressão da diminuição acentuada de quase 50% , registada em 2021.

“Contudo, no ano de 2022, esta região registou um aumento de 33% de mortes em resultado da violência contra civis, correspondendo a duplicação do número mortes comparativamente ao ano de 2021”.

  • Em 2022, a região da Bacia do Lago Chade, foi de novo palco de violência provocada pelo Boko Haram. Desde 2017, que este grupo radical tinha diminuído a sua presença nesta região, devido à presença do grupo separatista Estado Islâmico na África Ocidental (ISWA). Apesar da presença do Estado Islâmico, o ano de 2022 foi marcado por um aumento da violência extremista associada ao Boko Harama, resultado num aumento de 57% de atos de violência e de 70% no número de mortes. Embora o ISWA seja associado a maior número de casos de violência na região, o registo da atividade violenta destes dois situa-se pode agora ser comparável.
  • Estas mudanças coincidem com uma disseminação geográfica de ataques fora do estado de Borno, no nordeste da Nigéria. No ano passado, houve ataques ligados ao ISWA nos Estados de Kano, Kogi, Níger e Taraba. Foi também responsável por um atentado numa igreja no estado de Ondo (região sudoeste), ataques a um quartel militar e a uma prisão fora de Abuja, e uma tentativa de ataque a um quartel militar perto da fronteira com o Benim, a oeste estado do Níger. Da mesma forma, o Boko Harama foi associado a ataques violentos no noroeste da Nigéria. Ambos os grupos foram também responsáveis pela escalada de violência no Chade e no sudeste do Níger.

Norte de Moçambique

  • O número de atos de violência associada a grupos radicais islâmicos no norte de Moçambique registou um aumento de 29%, em 2022, para 437 – uma inversão da diminuição registada em 2021 (23%). A violência nesta região tende a aumentar para os níveis registados em 2020, antes da intervenção da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) e das forças ruandesas. Grupos menores de militantes espalharam-se pelos distritos mais rurais a oeste e sul, atacando aldeias – cometendo assassinatos, decapitações, sequestros, saques e destruição de propriedades.
  • O Norte de Moçambique é conhecido pelo elevado nível de violência contra civis. A atual situação aponta para uma continuação da violência contra civis, mediante o aumento de ataques ocorridos em 2022 (cerca de 20% para 288 eventos), revertendo uma diminuição registada em 2021. Da mesma forma, o número de mortes ligadas à violência contra civis registou um aumento de 57% (para 430). A violência contra civis é representa 66% de todos os eventos violentos no norte de Moçambique – mais do que qualquer outra região do continente.

Atividade de grupos militantes islâmicos africanos por teatro e tipo de evento

  • Como resultado do aumento da violência contra civis, existem atualmente mais de um milhão de refugiados nas quatro províncias de Cabo Delgado, Niassa, Nampula e Zambézia.
Propagação de ataques militantes islâmicos em cabo delgado

Adaptado de Centro para Democracia e Desenvolvimento

Norte de África

  • Eventos violentos ligados a grupos militantes islâmicos na região do norte da África diminuíram 32% no ano de 2022. O que parece demonstrar uma continuidade da diminuição da violência extremista na região.
  • O número de eventos violentos ligados à atividade militante islâmica está agora abaixo dos níveis pré-ISIS de 2013. As 276 mortes registadas representam uma diminuição de 14 vezes comparativamente ao número de mortes (mais de 4.000) ocorridas em toda a região do norte da África em 2015, ano em que a atividade violenta associada ao ISIS atingiu o registo mais elevado.
  • A maior parte da atividade radical islâmica registada nesta região concentra-se no Egito (cerca de 90%). A tendência para uma continuidade da diminuição de violência extremista é suportada pela união de diferentes tribos do Sinai na luta contra o ISIS. Apesar de número de conflitos não tenha registado qualquer variação batalhas em 2022, a violência remota e a violência contra civis diminuíram (60% e 21%, respetivamente).